Monday, June 15, 2009

Todas as éguas do mundo!

Ela veio do interior de Belo Horizonte, nunca tinha morado ou trabalhado na cidade grande.
Então, a conversa foi mais ou menos assim:

- Kizzy...
- Hã?
- Minha eguinha teve fiote
- Aah, bacana!
- Tava pensando...
- Hum?
- Cê fica chateada si eu colocá o nomi da eguinha de Kizzy???
- Claro que não! Depois traz uma foto da Kizzy (égua) pra eu conhecer!

Eu não conheci a eguinha por foto porque ela foi mandada embora antes.
Juro! não tenho nada com isso... pelo contrário: fiquei verdadeiramente triste pela moça, que mesmo aos 26, 28 aparentava ter mais idade, segunda ela, por conta dos “sofrimentos da vida”.

Mas esse meu contato com ela, mesmo que breve, serviu pra eu confirmar o fato de que estamos (nós, moradores de metrópoles) ficando cada vez mais frios, estamos quase congelando. Estamos perdendo a ingenuidade típica daqueles que ajeitam o cabelo de um desconhecido no elevador e homenageiam pessoas dando seus nomes a animais.
Estamos deixando de trocar um papo com quem senta ao nosso lado num banco de ônibus ou praça. Não desejamos mais “bom dia” aos que passam por nós. Se antes não devíamos falar com desconhecidos, hoje não podemos sequer olhá-los...
Alguns chamam de introspectismo, eu chamo pelo apelido carinhoso de excessodeamoraopróprioumbiguismo. Sim! Aquele orifício que se localiza em nossa barriga, sabe? Alguns até são castigados por piercings e laparoscopias... umbigo, porra!
Ele...
Estamos o amando cada vez mais intensamente, daí muitas vezes esquecemos que o mundo não se resume nele.

Comecei na égua, já to no umbigo... cadê o fio da meada???
Anh sim, a frieza...

É bem verdade que um fator que influi muito nessa maneira distante com que temos lidado com a vida/pessoas é a queda que alguns tem pra violência, pra malandragem. Isso faz com que nos tornemos cada vez mais desconfiados e consequentemente menos dispostos à dar margens a esses relacionamentos desprovidos de qualquer intenção como dar “bom dia” ao desconhecido e perguntar se ele acha que vai chover.
Ok! entendo que os tempos são outros, má peralá... viver apavorados, espantados, agarrados à bolsa e com os olhos arregalados... viver achando que não precisamos mais nos comunicar, estabelecer relações é viver exageradamente apaixonado pelos próprios umbigos. É nos entregar à frieza
E se deixarmos essa frieza vir acompanhada de falta de cordialidade, tolerância, educação... aí fudeu: me mudo pro interior de Belo Horizonte.


O fato é que se fosse necessário, eu queria mais é que batizassem com meu nome todas as éguas do mundo, a favor da maneira mais pura, ingênua e simples de viver!!!